terça-feira, 21 de abril de 2009

Tancredo só aceitou operação após garantia da posse de Sarney

Marcos Chagas e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil


Brasília - Ciente de que estava tomado por uma infecção de grande proporção dias antes de tomar posse na Presidência da República, Tancredo Neves resistiu até o último momento a submeter-se a uma cirurgia pela equipe do Hospital de Base. O primo Francisco Dornelles (PP-RJ), indicado à época para assumir o Ministério da Fazenda, recorda que o grande receio de Tancredo Neves era que o então presidente João Baptista Figueiredo se recusasse a dar posse ao vice-presidente José Sarney.

Já internado no Hospital de Base, com toda a equipe cirúrgica de prontidão, Tancredo disse a Francisco Dornelles que não se submeteria à operação caso não tivesse a garantia de que Figueiredo empossaria Sarney.

Francisco Dornelles recorda que não lhe restou alternativa a não ser garantir ao primo que o general-presidente empossaria Sarney.

As articulações para a posse de Sarney, de acordo com informações compiladas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), já estavam, naquele momento, sob a condução do então presidente da Câmara Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e do ex-ministro-chefe da Casa Civil Leitão de Abreu.

“Eu posso garantir ao senhor que o Figueiredo dá posse ao Sarney”, respondeu Dornelles ao presidente.

Só com essa garantia Tancredo Neves aceitou submeter-se à primeira de sete cirurgias para tentar amenizar o quadro de fortes dores abdominais.

Tancredo Neves morreu há 24 anos, no dia 21 de abril de 1985, de infecção generalizada.

O senador Francisco Dornelles relembra a grande comoção nacional com a morte de um dos principais articuladores políticos do processo de transição do poder militar para o poder civil, anunciada pelo porta-voz Antônio Brito.

“Foi uma das maiores tragédias da vida pública brasileira. Tancredo fez todo o movimento de conciliação, de entendimento e de concórdia, chegou à Presidência da República totalmente maduro para governar o Brasil e um dia antes é atacado por um problema de saúde que praticamente o afasta da Presidência. Nunca a sociedade brasileira teve uma frustração tão grande como teve em abril de 1985.”

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